quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um Cérebro Saudável precisa de um Coração Saudável

Exercícios regulares e ausência de cigarro podem ajudar a retardar a demência?

 

 

Quando os Institutos Nacionais da Saúde reuniram uma equipe de especialistas independentes no último mês de abril para descobrir como prevenir o mal de Alzheimer, as conclusões foram bastante sinistras. A equipe determinou que “não há evidências de qualidade científica sequer moderada” para coisa alguma – de suplementos herbais e nutricionais até condições ambientais, econômicas ou sociais – que cause a menor diminuição no risco de se desenvolver Alzheimer. Além disso, argumentou o comitê, há pouca evidência confiável de que se possa fazer qualquer coisa para atrasar os tipos de problema de memória associados ao envelhecimento. As conclusões dos pesquisadores criaram manchetes no mundo todo e deram um golpe em muitos dos fornecedores de “aceleradores cerebrais”, “aprimoradores de memória” e “softwares de treinamento cognitivo” que anunciam seus produtos na Web e na televisão. Mais tarde, um dos especialistas da equipe disse aos repórteres em uma conferência que o grupo queria “dissuadir as pessoas de gastar quantias extraordinárias de dinheiro em coisas que não funcionam”.

Mas será que a equipe exagerou? Alguns pesquisadores de memória e cognição resmungavam, em particular, que as conclusões eram muito negativas – especialmente no que diz respeito a não fumar, tratar a pressão alta e se engajar em atividades físicas. No último mês de setembro, o British Journal of Sports Medicine publicou algumas dessas críticas. Como jornalista científico de longa data, eu suspeitei que esse era o tipo de controvérsia instrutiva – com pessoas de alto nível defendendo lados opostos – que geralmente ocorre em pesquisas de ponta. Após conversar com vários pesquisadores, percebi que as discordâncias apontavam a emergência de novas visões sobre a forma com que os cérebros envelhecem.

Os investigadores estão procurando saber se precisam olhar além do cérebro, para o coração, para poderem entender o que acontece às células nervosas no correr das décadas. No processo, eles estão descobrindo novos papéis para o sistema cardiovascular, incluindo alguns que vão além de fornecer montes de sangue cheio de oxigênio para o cérebro. As descobertas podem sugerir caminhos úteis para atrasar a demência ou problemas de memória menos severos.

A demência, é claro, é um fenômeno biológico complexo. Apesar de o Alzheimer ser a causa mais comum da demência em adultos idosos, não é a única. Outras condições podem contribuir para a demência também, afirma Eric B. Larson, diretor executivo do Group Health Research Institute em Seattle. Por exemplo, os médicos sabem há muito tempo que sofrer um derrame, quando o fluir do sangue até o cérebro fica interrompido por um coágulo ou hemorragia, pode levar à demência. Mas a pesquisa desenvolvida nos últimos anos tem documentado a importância de pequenos derrames – tão pequenos que só podem ser detectados com um microscópio, após a morte – como outra possível causa de demência. Estudos das autópsias de pessoas que tiveram demência detectaram muitos dos chamados “infartos microvasculares”, seja sozinhos, seja em conjunto com as placas e emaranhados mais típicas do Alzheimer nos cérebros das pessoas com demência. Essas descobertas sugerem que a maioria das demências, mesmo aquelas causadas pelo mal de Alzheimer, são desencadeadas por múltiplos processos patológicos e que vão necessitar de mais de um tratamento.   

Provar que o tratamento cardiovascular é uma dessas abordagens ainda vai levar algum tempo. Só porque os microinfartos podem tornar a demência pior não significa que preveni-los vai retardar a deterioração geral do cérebro. Talvez a demência severa torne as pessoas mais vulneráveis a microinfartos. E só porque um melhor controle da pressão arterial e atividades físicas elevadas parecem diminuir o risco que uma pessoa tem de sofrer um derrame, não significa necessariamente que essa pessoa seja menos suscetível a microinfartos. Correlação, afinal de contas, não implica causa. Esse truísmo científico foi o problema que ficou incomodando os especialistas de uma equipe externa reunida pelo NIH. Portanto, o grupo concluiu, com uma exceção, que “todas as evidências existentes sugerem que tratamentos anti-hipertensivos não trazem benefícios cognitivos”. Os dados mostrando os benefícios do aumento de atividade física em indivíduos com problemas de memória confirmados foram apenas “preliminares”.


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