segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Telomerase reverte processo de envelhecimento

Rejuvenescimento dramático de ratos envelhecidos prematuramente aponta possível terapia


Por Ewen Callaway




Um estudo com ratos sugere que o envelhecimento prematuro pode ser revertido pela reativação de uma enzima que protege as pontas dos cromossomos.
Ratos alterados para não possuírem essa enzima, chamada telomerase, se tornam prematuramente decrépitos, mas recuperam a saúde quando a enzima é reintroduzida. A descoberta, publicada online em 28 de Novembro na Nature, aponta que algumas desordens caracterizadas pelo envelhecimento precoce poderiam ser tratadas ao se aumentar a atividade da telomerase. (Scientific American é parte do Nature Publishing Group.)
Isso também oferece a possibilidade de o envelhecimento humano normal poder ser retardado pelo re-despertar da enzima nas células em que ela parou de funcionar, afirma Ronald DePinho, um geneticista do câncer do Instituto de Câncer Dana-Farber e da Harvard Medical School em Boston, Massachusetts, que conduziu o novo estudo. “Esse trabalho tem implicações que nos levam a considerar a telomerase como uma intervenção antienvelhecimento mais séria”.
Outros cientistas, no entanto, apontam que ratos sem telomerase não são bons substitutos para o processo normal de envelhecimento. E mais que isso: aumentar a telomerase em humanos pode encorajar o crescimento de tumores.


Juventude Eterna

Depois de sua descoberta nos anos 1980, a telomerase ganhou a reputação de “fonte da juventude”. Os cromossomos têm capas de DNA repetitivo em suas pontas chamadas de “telômeros”. Toda vez que as células se dividem seus telômeros se encurtam, o que os leva a pararem de se dividir e faz com que morram. A telomerase previne esse declínio em alguns tipos de células, incluindo as células-tronco, ao aumentar o comprimento dos telômeros e a esperança era que, ao ativar a enzima, fosse possível retardar o envelhecimento celular.
Duas décadas depois, os pesquisadores estão percebendo que o papel da telomerase no envelhecimento é muito mais delicado do que se pensava. Alguns estudos descobriram uma associação entre telômeros curtos e morte prematura, enquanto outros não conseguiram confirmar essa ligação. Pessoas com doenças raras, caracterizadas por telômeros encurtados ou mutações na telomerase, parecem envelhecer prematuramente, apesar de alguns tecidos serem mais afetados que outros.
Quando ratos são modificados para ficarem completamente sem telomerase, seus telômeros vão se encurtando progressivamente no curso de várias gerações. Esses animais envelhecem muito mais rápido que ratos normais – eles quase não são férteis e sofrem de doenças relacionadas à idade, como osteoporose, diabetes e neurodegeneração. Além disso, eles morrem jovens. “Se verificarmos todos os dados ao mesmo tempo, teremos a idéia de que a perda da telomerase pode ser um causador muito importante do processo de envelhecimento”, observa DePinho.
Para descobrir se esses efeitos dramáticos eram reversíveis, a equipe de DePinho modificou os ratos de modo que a telomerase inativa pudesse voltar a funcionar se os animais fossem alimentados com um composto chamado de 4-OHT. Os pesquisadores permitiram que ratos chegassem à idade adulta sem a enzima e, então, reativaram-na durante um mês. Um mês depois, avaliaram a saúde dos animais.
“O que realmente nos pegou de surpresa foi a reversão dramática dos efeitos que vimos nesses animais”, surpreende-se DePinho. Ele descreve o resultado como “quase um efeito ‘Ponce de Leon’ – uma referência ao explorador espanhol Juan Ponce de Leon, que saiu em busca da mítica Fonte da Juventude. Os testículos secos voltaram ao normal e os animais se tornaram férteis novamente. Outros órgãos, como o baço, o fígado e os intestinos, se recuperaram de seu estado degenerado.
O pulso de telomerase de um mês também reverteu os efeitos do envelhecimento no cérebro. Os ratos que tiveram a atividade da telomerase restaurada apresentaram cérebros notavelmente maiores do que os animais que ainda estavam sem a enzima. Além disso, as células progenitoras neurais – que produzem novos neurônios e células cerebrais de apoio – voltaram a funcionar.
“Isso nos dá a sensação de que há um ponto de retorno para as doenças associadas à idade”, avalia DePinho. Vale a pena procurar drogas que aumentam a atividade da telomerase como possível tratamento para doenças raras caracterizadas pelo envelhecimento precoce, considera ele, e talvez até para problemas relacionados à idade mais comuns.


Ligação com o Câncer

O problema é que a telomerase frequentemente se transforma em cânceres humanos e parece ajudar os tumores pré-existentes a crescerem ainda mais rápido. Mas DePinho argumenta que a telomerase deve prevenir que as células saudáveis se tornem cancerosas ao prevenir danos ao DNA.
David Sinclair, um biólogo molecular da Harvard Medical School, em Boston, concorda que há evidências de que a ativação da telomerase possa prevenir tumores. Se o tratamento puder se tornar seguro, adiciona ele, “poderia levar a descobertas nas áreas de recuperação de funções de órgãos nos mais velhos e ao tratamento de uma variedade de doenças de envelhecimento”.
Outros pesquisadores são menos confiantes no que se refere à telomerase poder ser domada com segurança. “O rejuvenescimento dos telômeros é potencialmente muito perigoso a menos que você tenha certeza que não vá estimular o câncer”, pondera David Harrison, que pesquisa o envelhecimento no Jackson Laboratory em Bar Harbor, no estado americano do Maine.
Harrison também questiona se ratos sem telomerase são um bom modelo para o envelhecimento humano. “Eles não estão estudando o envelhecimento normal, mas um envelhecimento bastante anormal que causaram em ratos”, considera ele. Tom Kirkwood, que dirige o Instituto para o Envelhecimento e Saúde na Newcastle University, no Reino Unido, concorda, apontando que a erosão dos telômeros “com certeza não é a causa única, e nem mesmo a causa dominante” do envelhecimento humano.
DePinho reconhece que há mais no envelhecimento do que telômeros encurtados, particularmente em idades mais avançadas, mas argumenta que a terapia com telomerase pode um dia ser combinada com outras terapias que visam os mecanismos bioquímicos do envelhecimento. “Essa pode ser uma de várias coisas que precisamos fazer para aumentar a expectativa de vida e a vida saudável”, conclui.

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